quinta-feira, 18 de outubro de 2012

150 tipos e 700 mil brasileiros infectados por HPV

pesquisas estimam que 80% das mulheres têm ou terão o vírus


Foto por Adenilson Nunes/Agecom


O Brasil é um dos líderes mundiais em incidência de HPV, que é a quarta DST mais comum no país, com a estimativa de 700 mil pessoas convivendo com o vírus. E mais de 150 tipos de HPV já foram isolados segundo pesquisadores. A discussão acerca da doença nos últimos meses se deu graças à aprovação de um projeto de lei que propõe a vacinação contra o HPV em meninas de nove a 13 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto inicial era vacinar todas as mulheres de nove a 40 anos, mas segundo estudos, a vacina é mais eficaz antes do início da vida sexual. 


No território nacional, dois tipos de vacina estão disponíveis pelo particular. A bivalente, indicada para mulheres entre 10 e 25 anos e a quadrivalente, para homens entre nove e 26 anos. A maior dificuldade em torná-las acessíveis através das campanhas de vacinação é o alto custo que apresentam, pois são necessárias três doses custando, em média, R$240 a R$ 380 reais cada uma. A MSD, empresa fabricante da vacina, confirma que ela reduz 90,4% dos casos de lesões e 85,8% das infecções persistentes.

Mais de 150 tipos de HPV já foram isolados segundo pesquisadores e somente alguns estão relacionados às verrugas das regiões oral, anal e genital. Dentre os genitais existem dois grupos: os de alto risco (oncogênicos) e os de baixo risco (não oncogênicos). Nos casos oncogênicos, o aparecimento de lesões frequentes ou que não forem identificadas e tratadas de maneira correta podem progredir para o câncer, principalmente no colo do útero, mas também existem casos na vagina, vulva, ânus, pênis, orofaringe e na boca.

O que torna a doença ainda mais perigosa é a demora da manifestação dos sintomas. Os infectados podem demorar décadas até a apresentar o quadro clínico e acabam disseminando o vírus sem ter consciência. O diagnóstico é feito de várias maneiras em ambos os sexos, através de exames clínicos, laboratoriais ou após a aplicação de reagentes químicos para contraste (colonoscopia, peniscopia e anuscopia).

Não há um tratamento para a eliminação total do vírus e sim para a cura das lesões e a indicação de medicamentos que aumentam o sistema de defesa do organismo. O mais recomendado é a prevenção da doença através da repetição do exame preventivo de seis em seis meses, o uso de preservativos durante as relações sexuais e a vacinação, se possível.

A transmissão não acontece de forma exclusiva pelo ato sexual, mas também pelo contato direto com a pele ou mucosa infectada. O contágio pode acontecer mesmo na ausência de penetração vaginal ou anal. As gestantes portadoras do HPV também devem ser observadas, pois durante o parto pode haver a contaminação.

Segundo Adriana Diniz, enfermeira formada pela UFF e atualmente trabalhando com planejamento familiar e prevenção de DST’s em Arraial do Cabo, o ideal é começar a colher o preventivo assim que se inicia a vida sexual, uma vez por ano pelo menos. Fazer exames de sangue periodicamente para identificar outras possíveis doenças também é um caminho, mesmo quando se tem um parceiro fixo. 

No Rio de Janeiro, o Hospital do Câncer de Barretos, que já implementou de forma experimental a vacinação, vivenciou uma situação inesperada. Alguns pais foram contra a campanha afirmando que suas filhas não precisavam se vacinar, pois não praticavam o sexo. Segundo a enfermeira, o maior problema está na falta de interesse da sociedade pelo assunto, pois existe a informação, mas ainda há um tabu para chegar até ela. Adriana tenta, através das palestras, conscientizar jovens e os pais também. “A intenção é proteger as meninas e os rapazes antes que eles iniciem sua vida sexual, assim a exposição ao vírus é quase nula. Mas isso não significa que a vacina é um incentivo ao sexo, pelo contrário, é um incentivo a responsabilidade sexual que se perde a cada geração. Não tem que ter preconceito ou vergonha” – completa.

Ela também costuma explicar nos planejamentos familiares e nas palestras sobre educação sexual a diferença entre a liberdade e a maturidade. “O que eu sempre digo nos meus planejamentos familiares com os jovens é que nós ganhamos a liberdade sexual, mas esquecemos a maturidade. A vovó casava virgem com o vovô e ficava com ele a vida inteira, sendo feliz ou não. Enquanto ele até podia arrumar um relacionamento extra-conjugal, mas não com inúmeras mulheres. A média de parceiros era de dois a três pela vida inteira, agora não é mais assim. Se eu tenho um namorado, mantenho relações com ele e depois de um tempo não estamos mais felizes, nós procuramos outro e outro e assim por diante. Há uma troca constante de parceiros, mas a mentalidade é a mesma do tempo da vovó. Para os jovens, é “careta” usar camisinha. ‘Antigamente não se usava então por que usar hoje?’ Mas esquecem que a gravidez não é o único risco. De uma forma ou de outra o corpo feminino está preparado para isso, mas e as doenças? A AIDS, a Hepatite C, o HPV, por exemplo, que duram a vida inteira” – critica. 

Outro agravante, segundo a profissional, é a mídia enfatizar a AIDS e não ter a mesma preocupação com as demais DSTs. “Não se vê a preocupação com a Hepatite C, que é gravíssima e degenerativa e o próprio HPV, que leva o câncer. Não existe cura para essas doenças também, mas como se ouve falar que já é possível ter uma “sobrevida” sendo soropositivo, através dos coquetéis, se proteger está cada vez mais banal entre os jovens” – esclarece. Adriana defende o ponto de vista de alertar através de campanhas que chamem atenção e choquem os adolescentes, os deixando-os com medo de contrair qualquer DST por menor que seja. Outro ponto interessante e desconhecido por muitos é a chamada “carga viral” de cada doença. A especialista explica que é necessário que, mesmo sendo soropositivos, o casal mantenha uma rotina de proteção durante o ato sexual, pois o vírus da AIDS é mutável. Se a carga viral de um parceiro é maior que a do outro, há transmissão e o coquetel não terá mais o efeito esperado. 

Mesmo não sendo 100% eficaz, o uso de preservativos ainda é indispensável para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez. O estado oferece gratuitamente a camisinha nos postos de saúde.

Por Marjorie Mendonça :: 4º período de Jornalismo – UVA Cabo Frio

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