pesquisas estimam que 80% das mulheres têm ou terão o vírus
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Foto por Adenilson Nunes/Agecom
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O Brasil é um dos líderes
mundiais em incidência de HPV, que é a quarta DST mais comum no país, com a
estimativa de 700 mil pessoas convivendo com o vírus. E mais de 150 tipos de HPV já foram
isolados segundo pesquisadores. A discussão acerca da doença nos últimos
meses se deu graças à aprovação de um projeto de lei que propõe a vacinação
contra o HPV em meninas de nove a 13 anos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O
projeto inicial era vacinar todas as mulheres de nove a 40 anos, mas segundo
estudos, a vacina é mais eficaz antes do início da vida sexual.
No território nacional, dois
tipos de vacina estão disponíveis pelo particular. A bivalente, indicada para
mulheres entre 10 e 25 anos e a quadrivalente, para homens entre nove e 26
anos. A maior dificuldade em torná-las acessíveis através das campanhas de
vacinação é o alto custo que apresentam, pois são necessárias três doses custando,
em média, R$240 a R$ 380 reais cada uma. A MSD, empresa fabricante da vacina,
confirma que ela reduz 90,4% dos casos de lesões e 85,8% das infecções
persistentes.
Mais de 150 tipos de HPV já foram
isolados segundo pesquisadores e somente alguns estão relacionados às verrugas
das regiões oral, anal e genital. Dentre os genitais existem dois grupos: os de
alto risco (oncogênicos) e os de baixo risco (não oncogênicos). Nos casos
oncogênicos, o aparecimento de lesões frequentes ou que não forem identificadas
e tratadas de maneira correta podem progredir para o câncer, principalmente no
colo do útero, mas também existem casos na vagina, vulva, ânus, pênis,
orofaringe e na boca.
O que torna a doença ainda mais
perigosa é a demora da manifestação dos sintomas. Os infectados podem demorar
décadas até a apresentar o quadro clínico e acabam disseminando o vírus sem ter
consciência. O diagnóstico é feito de várias maneiras em ambos os sexos,
através de exames clínicos, laboratoriais ou após a aplicação de reagentes
químicos para contraste (colonoscopia, peniscopia e anuscopia).
Não há um tratamento para a
eliminação total do vírus e sim para a cura das lesões e a indicação de
medicamentos que aumentam o sistema de defesa do organismo. O mais recomendado
é a prevenção da doença através da repetição do exame preventivo de seis em
seis meses, o uso de preservativos durante as relações sexuais e a vacinação,
se possível.
A transmissão não acontece de
forma exclusiva pelo ato sexual, mas também pelo contato direto com a pele ou
mucosa infectada. O contágio pode acontecer mesmo na ausência de penetração
vaginal ou anal. As gestantes portadoras do HPV também devem ser observadas,
pois durante o parto pode haver a contaminação.
Segundo Adriana Diniz, enfermeira
formada pela UFF e atualmente trabalhando com planejamento familiar e prevenção
de DST’s em Arraial do Cabo, o ideal é começar a colher o preventivo assim que
se inicia a vida sexual, uma vez por ano pelo menos. Fazer exames de sangue
periodicamente para identificar outras possíveis doenças também é um caminho,
mesmo quando se tem um parceiro fixo.
No Rio de Janeiro, o Hospital do
Câncer de Barretos, que já implementou de forma experimental a vacinação,
vivenciou uma situação inesperada. Alguns pais foram contra a campanha
afirmando que suas filhas não precisavam se vacinar, pois não praticavam o
sexo. Segundo a enfermeira, o maior problema está na falta de interesse da
sociedade pelo assunto, pois existe a informação, mas ainda há um tabu para
chegar até ela. Adriana tenta, através das palestras, conscientizar jovens e os
pais também. “A intenção é proteger as meninas e os rapazes antes que eles
iniciem sua vida sexual, assim a exposição ao vírus é quase nula. Mas isso não
significa que a vacina é um incentivo ao sexo, pelo contrário, é um incentivo a
responsabilidade sexual que se perde a cada geração. Não tem que ter
preconceito ou vergonha” – completa.
Ela também costuma explicar nos
planejamentos familiares e nas palestras sobre educação sexual a diferença
entre a liberdade e a maturidade. “O que eu sempre digo nos meus planejamentos
familiares com os jovens é que nós ganhamos a liberdade sexual, mas esquecemos
a maturidade. A vovó casava virgem com o vovô e ficava com ele a vida inteira,
sendo feliz ou não. Enquanto ele até podia arrumar um relacionamento
extra-conjugal, mas não com inúmeras mulheres. A média de parceiros era de dois
a três pela vida inteira, agora não é mais assim. Se eu tenho um namorado,
mantenho relações com ele e depois de um tempo não estamos mais felizes, nós
procuramos outro e outro e assim por diante. Há uma troca constante de
parceiros, mas a mentalidade é a mesma do tempo da vovó. Para os jovens, é
“careta” usar camisinha. ‘Antigamente não se usava então por que usar hoje?’
Mas esquecem que a gravidez não é o único risco. De uma forma ou de outra o
corpo feminino está preparado para isso, mas e as doenças? A AIDS, a Hepatite
C, o HPV, por exemplo, que duram a vida inteira” – critica.
Outro agravante, segundo a
profissional, é a mídia enfatizar a AIDS e não ter a mesma preocupação com as
demais DSTs. “Não se vê a preocupação com a Hepatite C, que é gravíssima e
degenerativa e o próprio HPV, que leva o câncer. Não existe cura para essas
doenças também, mas como se ouve falar que já é possível ter uma “sobrevida”
sendo soropositivo, através dos coquetéis, se proteger está cada vez mais banal
entre os jovens” – esclarece. Adriana defende o ponto de vista de alertar
através de campanhas que chamem atenção e choquem os adolescentes, os deixando-os
com medo de contrair qualquer DST por menor que seja. Outro ponto interessante
e desconhecido por muitos é a chamada “carga viral” de cada doença. A
especialista explica que é necessário que, mesmo sendo soropositivos, o casal
mantenha uma rotina de proteção durante o ato sexual, pois o vírus da AIDS é
mutável. Se a carga viral de um parceiro é maior que a do outro, há transmissão
e o coquetel não terá mais o efeito esperado.
Mesmo não sendo 100% eficaz, o
uso de preservativos ainda é indispensável para prevenir doenças sexualmente
transmissíveis e a gravidez. O estado oferece gratuitamente a camisinha nos
postos de saúde.
Por Marjorie Mendonça :: 4º
período de Jornalismo – UVA Cabo Frio
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