quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Uma herança sofrida para um povo alegre



A cultura brasileira criada pelos negros escravos

Circuito de Cultura Ecológica /(Arquivo:Foto Arraial 1)
O Brasil é conhecido como um país de várias culturas devido à influência indígena, nativa da terra, e dos demais povos que fizeram parte do processo de colonização. Um dos que mais contribuiu foi africano. Quando os negros da África foram trazidos como escravos, suas tradições os acompanharam. Aprisionados nas senzalas, torturados e forçados a trabalhar sem remuneração, eles ainda tiveram boa parte da sua cultura discriminada e proibida pelos portugueses. Como uma forma de resgate cultural e homenagem à Zumbi dos Palmares – o maior personagem da luta dos negros contra a escravatura – o dia 20 de novembro, aniversário da sua morte, foi decretado o Dia da Consciência Negra no Brasil.


Embora a discriminação da sociedade da época tenha repreendido e marginalizado boa parte dessas manifestações, os negros encontraram formas para camuflar suas práticas com as dos portugueses e então não serem punidos. Essa camuflagem acabou criando uma nova cultura adaptada a realidade brasileira. Seus traços são vistos até hoje e alguns viraram “vitrine” do Brasil para o exterior. Os ritmos com tambores, a culinária temperada, o candomblé, alguns artefatos decorativos e até mesmo palavras do português brasileiro são alguns exemplos disso. 

Na música, o samba é uma das primeiras expressões afro-brasileiras a deixar de ser vista como marginalidade, e hoje é a marca do Brasil no mundo a fora. Outros ritmos também criados pelos escravos e marcados pelas batidas dos tambores são o maracatu, o jongo, a lambada, o maxixe e o maculelê. Instrumentos como o atabaque, o berimbau e o agogô também foram adaptados aqui no país, a maioria é difundido através da capoeira, também praticada pelos negros.

Entrando na questão religiosa, a influência é evidente. A religião trazida pelos negros era politeísta, na qual cada orixá é um deus que corresponde a pontos de força da natureza e tem características que se assemelham aos seres humanos. Como os negros que chegavam em terras brasileiras eram obrigados a se catequizar e aceitar o catolicismo, religião imposta pelos portugueses, eles foram proibidos de cultuar seus orixás. Como alternativa para não largar os costumes, eles associaram cada orixá a um santo católico, assim conseguiam camuflar sua fé e não serem punidos. Hoje existem mais de 15 religiões afrodescendentes praticadas no país. As mais conhecidas são o Candomblé, a Macumba, o Sincretismo, a Umbanda e a Confraria.

Já na arte culinária, devemos nossos ricos e atraentes pratos brasileiros à influência afro. O negro introduziu o leite de coco-da-baía, o azeite de dendê, o feijão preto, o quiabo, as sementes e entre outros elementos nas nossas receitas. Além disso, nos ensinou a fazer vatapá, acarajé, angu e pamonha, típicas da Bahia.  A forma de cozinhar, explorando os temperos naturais, modificou diversos pratos portugueses e criou especiarias tipicamente Brasileiras e apreciadas pelo mundo todo. A influência se dá também no modo de preparo, principalmente nos utensílios. Como não podiam comprar nada, as escravas usavam panelas feitas de barro e colheres de pau produzidas artesanalmente. O que antes era necessário, hoje é visto como um “algo mais” nas cozinhas pelo mundo a fora.

Por fim. expressões faladas naturalmente no país e que foram trazidas pelos africanos também fazem parte dessa mistura cultural. Carimbo, cochilo, minhoca, sambar, xingar, canga e forró são exemplos de palavras utilizadas com o significado original. Outras como molecagem, caçulinha, dengoso e bagunceiro são conhecidas como “híbridas”, pois surgiram com a mistura do português com os idiomas falados pelos escravos. Essas palavras de origem africana enriquecem nosso vocabulário são principalmente de origem do quimbundo, que pertence ao grupo banto. Este engloba inúmeras línguas e inclui cerca de três mil dialetos, falados por povos espalhados ao longo de da África. No contexto da escravidão negra no Brasil, o quimbundo era a língua mais falada. 

Por Marjorie Mendonça :: 4º período de Jornalismo – UVA Cabo Frio

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